BY SYLVIA DE MORAIS
Por que aprender a tocar um instrumento? Acredito que este é o questionamento que professores de música devem fazer o tempo todo. E, claro, buscar respostas. Digo “respostas” porque acredito que existem inúmeros motivos para aprender a tocar um instrumento, motivos que vão desde uma busca por uma satisfação pessoal até os benefícios neurológicos do aprendizado. Ouvimos música o tempo todo, estamos no carro indo trabalhar com o rádio ligado, na academia ou apenas parando um pouco para nos sentirmos bem.
Existe um livro fantástico chamado Alucinações Musicais, do já falecido e famoso médico Oliver Sacks, onde ele explora e expõe diversas condições clínicas relacionadas a música. Para mim, este livro foi o que desenvolveu grande parte do meu fascínio pela processo da escuta e do estudo da música. Sacks escreve um prefácio maravilhoso onde coloca que a inclinação para a música revela-se na primeira infância, manifesta-se e é essencial em todas as culturas e provavelmente vem dos primeiros seres humanos. Todos nós, exceto algumas raras exceções, percebemos timbres, ritmos, notas, melodias, harmonias (gosto sempre de lembrar que cada cultura percebe música sob determinado aspecto, porque esta não se restringe ao que nós ocidentais reconhecemos como tal). Resumindo, somos seres naturalmente musicais.
Ouvimos música com emoção, percebemos música com o corpo. Muitos estudos foram feitos sobre o processo de escuta e estudo em música, os resultados indicam que a música tem acesso a partes do nosso cérebro ligadas a afetividade, aos impulsos, emoções e a motivação. Desse modo, ela estimula o tipo de memória chamada de não verbal, permitindo integrar diversas percepções sensoriais. (Um exemplo, quando fui a Disney pela primeira vez tocava quase todos os dias no rádio a música “Let her go” da banda Passenger. Hoje, quando escuto a música eu revivo a sensação da viagem.).
O estudo do instrumento permite desenvolver todos estes aspectos relacionados a emoção e a afetividade, mas também diversas outras habilidades como:
Concentração: tocar exige foco e atenção no movimento que se faz, se as notas estão corretas, se o som que está saindo é aquele que queremos;
Coordenação motora;
Dedicação: o progresso só ocorre com a persistência e paciência no estudo.
Além de todos esses benefícios intelectuais, ouvir e tocar música tem muita relação com o prazer. Vivemos em um mundo tão corrido e estressante que é necessário ter mais do que só escola/trabalho e dormir. Assim como é saudável física e psicologicamente se exercitar, ter um hobby relacionado as artes trabalha o mental, nos afasta das preocupações diárias. Muitos alunos, principalmente adultos, relatam que o instrumento se tornou uma fuga. Quando estão cansados ou estressados, eles começam a tocar e começam a se sentir melhores, mais motivados, felizes. Comecei estudando pelo prazer, minha irmã mais velha estudava e eu achava aquilo maravilhoso, tinha lá pelos meus seis anos de idade, desde então nunca mais parei, aquilo que era prazer virou também profissão.
Para terminar gostaria de deixar uma frase de de Schopenhauer que resume muito bem todo esse prazer que é ouvir e tocar.
“A inexprimível profundidade da música, tão fácil de entender e no entanto tão inexplicável, deve-se ao fato de que ela reproduz todas as emoções do mais íntimo do nosso ser, mas sem a realidade e distante da dor.”